Atividade marítimo-turística gera mais emprego que a pesca

Investigador da Universidade dos Açores salienta que a atividade marítimo-turística gera mais emprego que a pesca. No entanto, alerta que perde relevância sem os pescadores.

A nível nacional, de acordo com os dados da Direção-Geral de Política do Mar, a atividade marítimo-turística é responsável por 45% do emprego gerado no setor marítimo, ao passo que a pesca extrativa representa apenas uma fatia de 10%.

Os dados foram ontem evidenciados por Licínio Tomás, investigador da Universidade dos Açores, que afirma que a realidade açoriana é muito semelhante, e deixa ainda o alerta de que o turismo perderia relevância sem a pesca.

“Isto mostra que nós estamos numa sociedade de lazer. No entanto, é necessário valorizar os pescadores porque só consegue preservar os recursos quem os conhece e quem trabalha diretamente com eles”, realçou Licínio Tomás na conferência internacional “Governança dos Oceanos em Regiões Arquipelágicas” que acontece até amanhã na Horta.~

Na sua intervenção sobre os desafios atuais para conhecer o setor das pescas e a sua dinâmica na empregabilidade, o investigador salientou que as “comunidades marítimas não são apenas os pescadores”, sendo necessário ter em conta o fator social associado às suas famílias e o fator económico e industrial de todas as atividades relacionadas, direta ou indiretamente, apresentando como exemplo a marítimo-turística.

Licínio Tomás evidenciou ainda que a pesca na Região tem um peso de 13,04% no total nacional, comparando com o peso da população residente açoriana que é de cerca de 2%.

“O valor das pescas nos Açores é superior que qualquer outra região do país e tem vindo a aumentar, segundo os dados do INE (Instituto Nacional de Estatística)”, afirmou o professor.

Segundo o investigador, os números são demonstrativos da “tradição” associada à pesca na Região, mas também a vontade de exercer uma profissão que não exija “formação ou certificação”, algo que diz ser irrealista já que, “se não tem cédula, não é considerado pescador”.

Na conferência internacional, Licínio Tomás forneceu também dados do INE de 2011 sobre os trabalhadores na área das pescas nos Açores, realçando que 26,92% são não remunerados.

Além disso, afirmou que apenas 7,85% trabalham por conta própria, contrastando com os 13,56% que trabalham por conta de outrem.

“No continente acontece o contrário, houve uma autonomização”, explica.

Apesar da demonstração destes dados, um dos focos do segundo dia da conferência internacional foi o alerta de que não existem dados científicos e fiáveis na área das pescas, o que dificulta a tomada de decisões sobre o setor.

“Como é que posso projetar considerações relativamente ao desenvolvimento local, se não sei qual é o meu universo de estudo”, questionou Ana Fraga, da Direção Regional das Pescas.

“Não falo só de quem trabalha na pesca, mas também de quem é afetado diretamente por ela”, explicou.


Fonte: Açoriano Oriental